O terremoto

by - 03:40


Como mencionei na postagem anterior, quando o terremoto ocorreu, eu estava feliz, tranquila, em paz, passeando e proveitando meu dia. Iria trabalhar mais tarde, encontrar uma amiga no dia seguinte, tinha meus planos como sempre. Eu estava ali sentada na estupa quando em segundos a terra tremeu e ali não senti muito, a sensação foi como se estivesse dentro de uma casa e um caminhão tivesse passado na rua. Mas vi as pessoas correndo aterrorizadas, os pombos voando, gritos, agitação e um barulho que não sei descrever. Eu apenas pensei em sair dali e encontrar o Lila.

Saí correndo para encontrar a saída da estupa e as pessoas mandavam eu me sentar, mas eu só pensava em sair dali. Quando desci, todos estavam na volta na estupa, saíram dos prédios e lojas. As crianças choravam. Idosos caídos no chão. Desespero. Quando cheguei na rua, que como eu havia mencionado era super movimentada, tudo estava parado. As pessoas chocadas, todo mundo parado pois a melhor coisa a se fazer quando a terra treme assim é parar e ficar seguro. E eu precisava atravessar aquele galeria para encontrar Lila.

Corri pela galeria rezando muito para que aquele prédio não desabasse ne minha cabeça. Estava com medo de ser assaltada (pois esse é o medo de todo brasileiro, violência) e sempre esperamos que no meio da catástrofe gente de má fé aproveite para agir. Felizmente consegui cruzar a galeria segura. Mas chegando onde Lila havia estacionado, não o encontrei, seu carro estava aberto mas ele não estava ali.

E vi um homem caído no chão. E um monge muito jovem caído no chão, todo ensanguentado, tendo convulsões. O que eu poderia fazer para ajudar aquele menino? Acredito que no momento do tremor ele tenha caído e batido forte com a cabeça. Ele sangrava pelo nariz, pela boca, por trás da cabeça, por tudo. Do outro lado um grupo de homens tirava escombros de um muro que caiu, imagino que tivesse gente embaixo. Eu gritava pelo Lila, imaginando se ele estava bem e ele não aparecia. Eu estava perdida no meio daquela tristeza toda.

Lila enfim apareceu. Veio correndo com o telefone na mão e disse “Madame, tu está bem?”... bem eu estava. Com a cabeça bagunçada, ainda não entendo a gravidade da situação em que eu estava envolvida, mas fisicamente estava bem sim. Ele estava envolvido tentando chamar ambulância para pessoas que estavam feridas, eu disse pra ele para tentarmos uma ambulância para aquele monge e assim que as coisas se acalmassem que tentássemos voltar para o hotel.

Enfim conseguimos sair dali. O caminho para o hotel foi difícil, tenso. Tumulto, muita gente na rua (no meio da rua) pois ficar perto de prédios durante um terremoto não é seguro. E vi muito horror, muitas casas destruídas, muita gente desesperada. Foi triste ver tudo isso, ainda mais num lugar onde as pessoas são tão boas. O próprio Lila podia ter me deixado pra trás naquele dia, mas não, me levou pro hotel em segurança.  Ele ligou para a esposa dele no caminho, e ela estava bem.

Tivemos que parar e sair do carro pelo menos 2 vezes, pois os tremores estavam começando de novo. Eu rezava com toda a fé que podia. Acho que nunca orei com tanta fé na vida. Lila dizia para eu repetir “mero, mero, mero” sem parar. Ele disse que era assim que o avô dele orava pedindo para o terremoto parar. Repeti “mero, mero, mero” com ele inúmeras vezes. Devegar, no meio do tumulto, da destuição e da tristeza daquelas pessoas, enfim chegamos no hotel. Eu estava ainda achando que talvez pudesse trabalhar naquele dia. Eu não havia ainda entendido o que havia se passado e o tempo que levaria para tudo se ajeitar.

Chegando no hotel, todos estavam no jardim. As pessoas correram para o jardim de qualquer jeito, como estavam. Pessoas de pijama, de roupão, sem calçados. Encontrei minha tripulação e ali ficamos. Por horas. Quando enfim pude conectar a internet, comecei a ler e a enfim entender que eu havia me escapado muito bem de uma catástrofe da natureza. Que muita gente havia morrido e tantas outras estavam machucadas. Que as coisas iriam demorar para se ajustar por ali.

Pode parecer que um dia é pouco e passa rápido, mas para nós foi um dia onde tentamos nosso melhor para ficar bem e seguros. Você esquece qualquer drama, qualquer insatisfação que você tenha na vida quando está vivendo um dia assim. Você só quer estar bem seguro. E isso basta.

Não quero ser cansativa nas minhas postagens, então vou parando esta por aqui. Na próxima postagem contarei como passamos este dia e o “balanço” que isso significou para mim e as pessoas que estavam comigo.  Até breve e obrigada pela visita.

INSTAGRAM

INSTAGRAM
Siga- me: @jessicapulla